Ops! Queremos nossas histórias circulando por aí, mas não queremos o Facebook rastreando todos os movimentos do site. Para compartilhar, copie e cole esse link:
https://chupadados.codingrights.org/?p=2750
Ops! Queremos nossas histórias circulando por aí, mas não queremos o Twitter rastreando todos os movimentos do site. Para compartilhar, copie e cole esse link:
https://chupadados.codingrights.org/?p=2750
Por Natasha Felizi e Joana Varon
Estamos em uma relação abusiva com nossos equipamentos tecnológicos de estimação, e acreditamos que eles possam estar possuídos pelo Chupadados.
Eles são bonitos, gentis, nos fazem companhia e nos fazem sentir atraentes e amparados. Nos apaixonamos por eles e depositamos ali toda a nossa confiança, dos gestos mais cotidianos aos segredos mais íntimos. Eles são nossos objetos de desejo e sonhos de consumo. Até o dia em que percebemos que controlam o que fazemos, monitoram quem encontramos e compartilham nossa intimidade com quem não tem nada a ver com isso.
Sob conceitos como "Big Data", "Smart Cities" e "Internet das Coisas", vivemos a crença de que a abundância de dados, somada à alta capacidade de processamento de computadores com algoritmos inteligentes, possibilita mais facilidade e maior eficiência nas vendas, na economia, no combate ao crime, na mobilidade, na proteção do meio ambiente, na garantia da segurança, da saúde e muitos dos problemas que enfrentamos globalmente. Mas como funcionam essas tecnologias e a serviço de quais interesses elas trabalham?
Sensores cada vez mais avançados possibilitam a digitalização massiva dos ambientes em que vivemos, dos nossos corpos e de nossos hábitos. Esse processo faz com que nossos movimentos, gostos de consumo, pensamentos íntimos, sentimentos e relações sejam registrados e transformados em dados, em informações de valor que são exploradas economicamente.
A inteligência do Chupadados foi descobrir que cada busca, click, curtida, compartilhamento que damos, ou mesmo a informação de quanto tempo o cursor do mouse passa sobre alguma imagem, poderia ser monetizada. O sucesso desse modelo depende de que acreditemos que as informações das quais o Chupadados se alimenta são irrelevantes e de que ninguém deve ter nada a esconder. Em cima dessa ideologia, os mais diversos tipos de serviços e plataformas foram criados.
Hoje, o número de tecnologias dominadas pelo Chupadados é expressivo. Em média, cada uma das mais de 1 bilhão de pessoas que estão no Facebook, por exemplo, passam 20 minutos ou mais por dia dando likes, comentando e visualizando conteúdos. Isso dá um total de mais de 300.000.000 horas por dia de um trabalho que é vital para a existência do Chupadados, e pelo qual as empresas não precisam pagar. Nossos dispositivos foram possuídos com a ladainha de que produzimos os dados em troca de poder usar seus serviços gratuitamente. A expansão da presença do Chupadados tem permitido que esse modelo seja adotado não apenas por empresas de tecnologias de informação, mas também, e cada vez mais, por seguradoras, imobiliárias, bancos, gestores públicos e polícias.
A especificidade desse sistema é que nós e nossas tecnologias de estimação estamos constantemente trabalhando de graça para construir, de maneira cada vez mais detalhada, perfis. Esses perfis são explorados para diversas finalidades, que vão do marketing à análises científicas, previsão de crimes e identificação de comportamento suspeito. Decisões feitas com base em perfis gerados por dados já começaram a determinar, de maneira simplória e duvidosa, quem somos, que conteúdos veremos ou deixaremos de ver, que tipo de produtos nos serão oferecidos; a que informações políticas devemos ou não devemos ter acesso; o que podemos ou não podemos dizer, mostrar ou ver; que fronteiras ou territórios podemos cruzar. Mais que isso, elas já podem determinar quem são as pessoas mais propensas a cometer crimes, a cometer violações de contratos de aluguel, a contrair dívidas ou a ter certos tipos de doença ou comportamento contra algum tipo de ordem estabelecida.
Apesar de muito detalhados, esses perfis criados por dados estão suscetíveis a erros de cálculo ou julgamentos enviesados. Tecnologias buscam resolver problemas, mas a formulação do problema e das soluções depende de quem as desenvolve. Elas podem reproduzir as visões políticas e sociais de seus criadores e colaborar para acentuar as mesmas injustiças que já conhecíamos antes, como discriminação racial, de classe e gênero. Sob o domínio do Chupadados, desigualdades tendem a ser cada vez mais legitimadas, já que ele promove a crença enganosa de que dados e algoritmos produzem análises objetivas, neutras e verdadeiras.
Para encarar a face oculta das nossas tecnologias de estimação, reunimos aqui histórias sobre como mecanismos de vigilância estão a serviço do Chupadados e têm sido utilizados por nós mesmos, por governos e por empresas para monitorar pessoas no âmbito de suas cidades, casas, bolsos e corpos.
Nos últimos anos, falamos sem parar em “cidades inteligentes”, como um progresso positivo e inquestionável. No entanto, nossa ampla variedade de aplicativos e dispositivos conectados, os chips em cartões de crédito, de transporte e outros sistemas de vigilância implementados por empresas e governos têm transformado nossas cidades em um grande banquete para o Chupadados. Precisamos estar atentos às falsas impressões, como o discurso de que mais câmeras trarão mais segurança para as cidades, e questionar a quem estamos informando por onde andamos, como e com quem.
Leia em Cidade:
O uso de tecnologias digitais não só modificou a maneira como organizamos nosso espaço interior e vida afetiva, como também possibilitou que nossos objetos conectados consigam codificar nossos hábitos domésticos e padrões de comportamento. Agora que trouxemos o Chupadados pra casa, precisamos entender o que essa entidade tão pouco confiável está fazendo com essas informações.
Leia em Casa:
Temos certeza de que o Chupadados habita os bolsos de boa parte da população. Mas o que poucos sabem é que ele extrai informações do celular no bolso esquerdo para tentar atingir a carteira no bolso direito. Ele determina seu perfil de consumidor, estima seu poder aquisitivo e pode tanto te encher de propaganda quanto influenciar os preços do que te é oferecido.
Leia em Bolso:
Aplicativos menstruais, aplicativos esportivos, aplicativos de saúde, dildos, termômetros e coletores menstruais conectados à internet. Graças a esses dispositivos, hoje podemos converter doenças, sexualidades, calorias e sangue menstrual em informação, número e valor.
O Chupadados interpreta essas informações com bem entende. Com sua mente obscura, ele te impõe padrões normativos sobre seu peso, sua saúde e sua vida sexual – ainda compartilha suas informações íntimas por aí. Chato, né?
Leia em Corpo: